segunda-feira, 29 de março de 2010

A vida é um palco iluminado(Sugestão para uma peça teatral)

Rato de Biblioteca



Cena 1



O governador do estado mais rico do Brasil dorme em seu gabinete, pleno expediente, sonhando com as eleições.

Entra seu secretário.

Secretário: Senhor governador, hora de acordar!

Governador: Hein? O quê? Onde? Onde estou?

Secretário: Está em seu gabinete, senhor! Eu vim lhe acordar porque...

Governador: Droga! Praga! Bem no melhor do sonho! Justo na hora em que eu estava derrotando os gnomos barbudinhos, salvando o planeta da ameaça esquerdista, galopando em meu maravilhoso cavalo alado, que nem São Jorge! Eu já estava até me preparando para subir a rampa do Alvorada, pulando os obstáculos: a Dilma, o Genoíno, o Lula...

Secretário: Desculpa, senhor governador, é que já chegaram os novos marqueteiros da campanha!

Governador: Ah, que bom, mande-os entrar, homem, o que está esperando?

(Sai o secretário, entram os marqueteiros).

Peçanha: Como vai, senhor governador, somos os homens que irão colocá-lo no topo das pesquisas! Peçanha e...

Nóbrega: ... Nóbrega! Ao seu dispor!

Governador: Excelente, vocês sabem, o meu sonho dourado é ser um dia presidente deste país! Ainda não consegui digerir minha última derrota, sabem, o debate...

Peçanha: Ah, é, o debate!

Nóbrega: Aquele em que o Lula saiu vencedor!

(Governador, ao ouvir isso, tem um ataque, uma tremedeira).

Governador: Aquele maldito! Aquele desgraçado! Aquele... aquele...

Nóbrega: Vitorioso?

Governador: O que você falou? O quê?

Peçanha: Nóbrega, controle suas palavras, o governador ainda está traumatizado!

Governador: Desde aquele dia, do debate, eu fiquei transtornado, esperem um pouquinho aí que vou tomar o meu frontal!

Peçanha: Não se preocupe, governador, agora o senhor está em boas mãos! Desta vez não tem erro!

Governador: Pronto, tomei! Dãããã... já me sinto bem melhor!

Peçanha: Então vamos falar da campanha!

Governador: Vai sair muito caro?

Nóbrega: Ahahah! Que nada, governador! O Peçanha tem uns bingos por aí, a gente faz uma lavagenzinha, sabe como é, tudo na honestidade, claro!

Peçanha: No final, é o povo que vai pagar mesmo! Ahahahah!

Governador: Dããã... Vai levar fumo, como diz o outro!

Peçanha: Muito boa essa, governador! É isso mesmo que queremos que o senhor faça, umas piadas engraçadas que nem essa daí...

Nóbrega: Um sorrisinho... Vai ter que treinar, viu?

Governador: Ai, será mesmo? Vou tentar, vocês prometem que vão me ajudar?

Nóbrega: Claro, governador! Mas lembre-se da regra nº 1: sorria sempre!

Governador: Puxa, gostei de vocês! Dããã...

(Entra secretário)

Secretário: Governador, os professores, governador!

Governador: Dããã... Que professores?

Peçanha: Ah, ele deve estar falando da passeata! Nós passamos por alguns deles!

Nóbrega: Gentinha!

Secretário: Pois então, já estão chegando! Aciono as forças armadas?

Governador: Ai, eu não sei...Vocês poderiam esperar um pouquinho, deixa eu ler o jornal de hoje! (Lendo o jornal) Olha só o que diz aqui: “Hoje há um trígono entre mercúrio, marte e vênus, por isso é o momento ideal para se declarar para a pessoa amada”. Não entendi nada! É sempre assim, quando preciso tomar uma decisão importante, meu horóscopo só fala em amor!

Peçanha: Governador, o senhor não pode se basear na astrologia para comandar um povo!

Governador: Dããã... Porquê?

Peçanha: Eu tenho uma idéia, vamos usar os professores em sua campanha!

Governador? É claro, como é que eu nunca pensei nisso? Como? Usar os professores na minha campanha eleitoral! Que idéia! Mas... será que eles vão aceitar?

Nóbrega: O senhor não entendeu, governador! Espera aí que eu vou lhe explicar... hã... explica pra ele, Peçanha!

Peçanha: Vamos mostrar ao povo que vossa excelência é pura determinação, que não se curva diante dos protestos das elites!

Governador: Que elites?

Peçanha: Os professores!

Governador: Isso mesmo, eu não me curvarei a essa elite professoral! Eles querem acabar com o Brasil! São as forças ocultas, que o Jânio falava, antes de ter sido abduzido!

Nóbrega: Parabéns pela erudição, governador!

Governador: A UNE também há de pagar caro pelo mal que fez ao nosso país! E tem mais, essa história de que eu fiz parte da UNE, não dessa UNE ai, é tudo intriga da oposição, é fofoca de quem não tem mais o que fazer!

Secretário: Então chamo as forças armadas?

Governador: Sim! Chame-os, chame-os todos! Usem todas as armas que puderem! (Sobe na mesa, discursando) Balas de borracha, bombas de feito moral! Eu defenderei este chão dos malfeitores! Eu defenderei este país da tirania dos professores e estudantes, em nome da Democracia! Serei para sempre lembrado como o homem...

Peçanha: Não esqueça de sorrir, governador! Sempre sorria!

Governador: ... o homem que... o homem que... dããã... o que eu digo agora? Vocês estão sendo pagos para me orientar!

Peçanha: O homem que está acima do povo, em nome da educação!

Governador: Isso! O homem que está acima do povo, em nome da educação! (O governador dá seu mais largo sorriso, a mão esquerda afaga o que resta dos cabelos, seus olhos brilham estranhamente).

Secretário: Estão ouvindo os gritos? São dos professores malvados apanhando!

Peçanha: Maravilha! Parabéns, governador! Essa foi a 1º lição: não se curve jamais, não faça acordos! É assim que se governa! E sorria sempre!

Nóbrega: Depois iremos prepará-lo para o debate com a Dilma!

Governador: Dããã... Que Dilma?



Fim

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