quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Memória vergonhosa


Chendler Siqueira*

Logo após toda uma historia de luta em resistência, do Rio Grande do Sul, contra a ditadura militar, a prefeitura municipal de Rio Grande consegue se superar e cometer mais um inacreditável e inadmissível erro. Com total certeza Leonel Brizola deve estar se revirando no túmulo. A criação de um monumento em homenagem ao rio-grandino Golbery do Couto e Silva, não é só uma agressão a historia do país, mas também um desrespeito a memória de todos aqueles que infringiram regras diretas para defender o direito a democracia de todos os brasileiros.
A ideia lançada pelo executivo em 2009 e aprovada quase que por unanimidade dos vereadores, não só revolta, como causa incompreensão na juventude socialista do município. Parece que somente a bancada da esquerda conhece a verdadeira historia do caro ministro Golbery. O homenageado em questão não é um rio-grandino qualquer que chegou a política e trouxe benefícios à cidade. Trata-se do imperdoável assassino da democracia brasileira, o responsável pela censura das mídias, pela agressão dos que resistiram à ditadura e pior de tudo, o mandante, diretamente ou não, de inúmeros assassinatos e prisões daqueles que lutavam pela liberdade de expressão do povo.
            Realmente como diz o professor e historiador Chico Cougo, “Rio Grande é uma cidade SURREAL”. Através do historiador descobrimos que como se já não bastasse ter de render homenagens a um ditador, temos de homenageá-lo quatro vezes. É isso mesmo, Rio grande contando com a pedra fundamental já possui quatro homenagens ao tirano. Um troféu dos comerciantes varejistas, um monumento do Grupo de Artilharia e um Ano acadêmico instituído pela Academia Rio-Grandina de Letras. Está certo que errar é humano, mas persistir no erro já é burrice. Ou será que não estamos falando do mesmo ministro? Sim, pois a única explicação lógica é que estamos fazendo uma enorme confusão, e que todas essas homenagens não sejam para a mesma pessoa despótica que a juventude do Araguaia repudia.
            Estudantes arrancaram bancos de cimento e fizeram barricadas em frente ao palácio Piratini, sargentos se rebelaram e armas foram distribuídas a voluntários civis. O golpe militar foi contido temporariamente, para que nos dias de hoje a prefeitura atual deste município possa homenagear não quem lutou por seus direitos, mas o eterno e inesquecível opressor, soberano, injusto e cruel Golbery do Couto e Silva. Ditador, mas rio-grandino.
Quem sabe os órgãos competentes entendam que o famoso “Titica” também mereça uma homenagem, era rio-grandino e também trouxe fama para nossa cidade. Fica a dica.


*Diretor de comunicação da União da Juventude Socialista (UJS) e União Rio-grandina dos Estudantes Secundaristas (URES).

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